sábado, abril 11

Árvores


 “Nada é eterno. As folhas caem, os frutos ficam podres e, em torno de seus enormes e desgastados troncos antigos, eu vejo as lembranças desta interminável solidão. Solidão esta que as tornam quase inexistentes... Secas de qualquer sentimento. É deprimente. Falta de pensamento, por assim dizer. Falta de sentir onde estão, de saberem qual o motivo de estarem ali, parada contra o tempo que não podem distinguir.

Outras folhas renascerão no lugar, provavelmente. E as antigas ocupantes não estão ligando para isso. Por aquele mesmo motivo, falta de pensamento. Não somos eternos. Nunca seremos. Nossa alma, talvez. Mas assim como ela, tudo ao nosso redor que não podemos tocar ou enxergar consiste em um grande mistério. Um segredo daqueles que você tem vontade de contar para alguém, mas tem receio de que esteja contando uma mentira, e acabar sofrendo com as consequências depois. Não podemos afirmar nada. Somos meros fios no tecido da vida. Simplesmente nascemos, vivemos e morremos. E, quem sabe, renascemos. Esse é o ciclo. Tem de ser assim.”

Perdição



"Não necessariamente a ordem do começo de minha perdição. De um sentindo vulgar de teus olhos e minha carne em tua boca. No momento em que tua retina se dilata com facilidade... E eu vejo o estrago. Meu cabelo que se bagunça pela minha pele e sobre ela sua boca serrada se abre lentamente e geme. E o ar que você inala vem de mim. Tua respiração forte não disfarça a entrega. A mão que percorre o meu corpo, da boca até o que é mais sensível, é a sua. O que sinto só é a reversão do frio no peito que diz teu nome em palavras que você mesmo escreve. Escrever é a nossa fuga, entende? A poesia diz de nós o que é mais sincero. E arriscamos no vulgar das palavras, o sentimento que se diz mais insano. Pudor que não é medido. Dos meus cabelos que tocam os seios que se entregam á sua boca. Eu sussurro o que se diz arte. Sussurro o que se sente prazer. Perdemo-nos pronomes, nos verbos mal conjugados, em versos que se intercalam como alvo você. Eu lanço a palavra, o sentimento e o meu corpo, te atingo num só ato. Ato este que mistura o nós em um só ser. No encaixe em que tardes e madrugadas nos ouvem, nos sentem, nos invejam."